Os incêndios que atingem o Pantanal há mais de 90 dias fizeram com que o bioma se tornasse um grande cemitério a céu aberto. De acordo com o Grupo de Resgate Técnico Animal Cerrado Pantanal (Gretap), cobras, jacarés e anfíbios são a maioria entre os animais encontrados mortos pelo fogo.
A médica veterinária e bióloga Paula Helena Santa Rita está em Corumbá (MS), cidade com maior número de focos de incêndio do Brasil, e relata que muitos animais morreram incinerados ou por hipertermia devido aos incêndios florestais. A especialista atua no Gretap, que é responsável por coordenar as ações de resgate e atendimento aos animais silvestres vítimas de desastres ambientais em Mato Grosso do Sul.
“Os animais que mais encontramos mortos foram répteis, como serpentes e jacarés, e anfíbios de forma geral, incinerados ou mortos por hipertermia. Notamos que animais tentam fugir, mas o extremo de temperatura causa a morte”.
O fotógrafo de natureza Araquém Alcântara registrou de perto as cicatrizes que o fogo tem deixado na fauna e flora pantaneira. Veja abaixo e ao longo da reportagem as imagens.
Araquém Alcântara esteve no Pantanal para retratar os incêndios que já consumiram mais de 5% do bioma neste ano. O profissional encontrou diversos animais mortos. Pelas imagens é possível ver carcaças queimadas de cobras e jacarés no cenário devastador que tomou conta do bioma.
As serpentes e os jacarés estão entre as espécies da fauna pantaneira mais afetadas pelo fogo pelo fato de rastejar, o que faz com que as cobras sejam atingidas mais rapidamente pelas chamas. Os lagartos e os anfíbios, como sapos, também estão entre os animais mais afetados pelos incêndios.
O fogo está consumindo o bioma há mais de três meses. Mais de 764 mil hectares foram destruídos, o que deixa um rastro de devastação ambiental e morte de animais. Para se ter uma dimensão, a área completamente destruída é seis vezes maior que a cidade do Rio de Janeiro.
A especialista detalha que muitos animais que antes usavam a vegetação para se esconder, agora estão expostos a predadores devido a devastação do bioma. Segundo ela, ainda não houve a necessidade de captura ou deslocamento de animais em Corumbá.
“Em quase todas as áreas a gente observa batida de onça-pintada e jaguatirica. Muitos animais estão se abrigando no topo de árvores. Os bugios, por exemplo, não se deslocam pelas árvores, então eles ficam ilhados para fugir do fogo já que o solo não oferece condição para eles andarem pela região”.
“Remodelagem” do Pantanal
A biodiversidade do Pantanal é composta por mais de 2 mil espécies de plantas, 269 peixes, 131 répteis, 57 anfíbios, 580 aves e pelo menos 174 mamíferos. O número de invertebrados é desconhecido. A preservação do Pantanal é uma preocupação da especialista Paula Helena. Segundo ela, o bioma vive um momento de “remodelagem” devido aos últimos desastres ambientais.
“Temos observado uma remodelagem do Pantanal. É fato que a natureza sempre encontra um caminho, 2020 não foi superado pelas populações do Pantanal. Houve muitas perdas, esse movimento está acontecendo e o nosso trabalho é dar aporte para que a gente continue tendo essa biodiversidade única que existe no bioma”.
Conforme a especialista, ainda é muito recente para estimar o número de animais mortos pelas queimadas no Pantanal. O bioma viveu seu pior mês de junho em termos de queimadas desde que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) começou o monitoramento, em 1998.
Contudo, essa não e a primeira vez que o Pantanal vive uma tragédia ambiental, um estudo realizado por 30 pesquisadores de órgãos públicos, universidades e ONGs estimou que em 2020, ao menos, 17 milhões de animais vertebrados morreram em consequência direta das queimadas.
G1