
Enquanto prefeitos e aliados movimentam cifras milionárias oriundas de convênios com a União e o Estado destinados à saúde, educação e programas sociais, famílias inteiras vivem à mercê de um poder público ausente.
No coração seco e escaldante do sertão da Paraíba, onde a sobrevivência já é um desafio imposto pela geografia e pela escassez, outro inimigo ainda mais cruel mina silenciosamente as esperanças da população: a corrupção. Investigações recentes da Polícia Federal têm colocado sob os holofotes dezenas de prefeituras de pequenas cidades da região, acusadas de desviar recursos públicos que deveriam aliviar o sofrimento dos mais necessitados.
Enquanto prefeitos e aliados movimentam cifras milionárias oriundas de convênios com a União e o Estado destinados à saúde, educação e programas sociais, famílias inteiras vivem à mercê de um poder público ausente. Em comunidades onde o único posto de saúde opera com falta de remédios e profissionais, onde escolas funcionam em prédios precários e crianças caminham quilômetros sob o sol para estudar, o impacto do desvio de verbas é cruel e imediato.
Dona Francisca, moradora de uma comunidade rural de uma pequena cidade do Vale do Rio do Peixe, resume com dor a realidade: “Aqui só lembram da gente em época de eleição. Prometem ambulância, comida, água. Mas tudo some. Dizem que o dinheiro vem, mas a gente nunca vê.”
A ausência do Estado, alimentada pela má gestão e pela corrupção, obriga muitos sertanejos a viver da ajuda de vizinhos, ONGs ou de programas federais que chegam com atraso.
Uma investigação da Polícia Federal identificou práticas que vão desde superfaturamento de obras, contratação de empresas fantasmas, até uso indevido de recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e do Sistema Único de Saúde (SUS). Em muitos casos, as cidades continuam com o mesmo cenário de abandono, enquanto gestores e aliados exibem riqueza incompatível com os salários que recebem.
“O que se rouba aqui não é só dinheiro. É a dignidade das pessoas. É o direito à saúde, à educação, à vida”, afirma um Agente da PF que preferiu não se identificar, envolvido nas investigações de uma operação que tem avançado sobre o interior da Paraíba.
O sertanejo, já acostumado a conviver com a seca e a escassez, vem enfrentando há décadas um inimigo mais covarde: a corrupção institucionalizada, que se esconde por trás de discursos populistas e promessas de campanha. A esperança, para muitos, está nas ações dos órgãos de controle e no fortalecimento da transparência e da fiscalização.
Dados Estatísticos Relevantes
165 municípios paraibanos foram identificados pelo Tribunal de Contas da Paraíba (TCE-PB) por excederem o limite de 30% de servidores temporários em relação ao número de servidores efetivos, conforme auditoria realizada em 2024.
43 prefeituras foram multadas pelo TCE-PB por atrasos no envio de informações ao sistema “Sagres Diário”, comprometendo a transparência na gestão dos recursos públicos.
12 prefeituras e 5 câmaras municipais tiveram suas contas bancárias bloqueadas pelo TCE-PB devido à falta de transparência e descumprimento de obrigações legais.
19 prefeituras foram identificadas por não atualizarem dados públicos no sistema do TCE-PB por quase um mês, descumprindo a Lei de Acesso à Informação.
R$ 15 milhões foram recebidos por escritórios de contabilidade contratados por prefeituras paraibanas, que estão sendo investigados pela Polícia Federal por possíveis irregularidades.
Esses dados evidenciam a necessidade urgente de medidas eficazes para combater a corrupção e promover a transparência na gestão pública, garantindo que os recursos destinados ao bem-estar da população sejam utilizados de forma adequada.
Enquanto isso, a população segue resistindo, com fé, coragem e a esperança de que um dia o dinheiro público cumpra seu verdadeiro papel: servir ao povo.
Espião do Sertão