A escassez de mão de obra qualificada é o novo fator de pressão nos custos de produção de novos imóveis, e tem alimentado as novas altas dos preços de projetos e lançamentos em 2024.
Segundo especialistas ouvidos pelo g1, um dos pontos que que explica o sumiço dos trabalhadores qualificados é o próprio aquecimento da demanda do mercado imobiliário. São trabalhadores mais concorridos quando há muitos projetos em andamento, e eles têm cobrado salários mais altos.
Além disso, os números recordes de ocupação no país também fazem com que trabalhadores com experiência tenham deixado o setor imobiliário para seguir carreira em novos empregos.
Por fim, o segmento tem tido dificuldades em encontrar trabalhadores com treinamento técnico adequado para operar as novas tecnologias do setor, como operar equipamentos atualizados e mais sofisticados.
Dois dos efeitos desse cenário são:
- Uma maior barganha e salários mais altos no segmento; e
- Uma pressão nos custos de construção e, consequentemente, nos preços dos imóveis.
Por que há falta de mão de obra na construção civil?
De acordo com o presidente-executivo do Secovi-SP, Ely Wertheim, o setor de construção civil passou por um processo de industrialização nos últimos anos, que tem exigido um operário mais qualificado e treinado para conseguir lidar com toda a nova tecnologia.
“O operário da construção civil precisa saber operar equipamentos atualizados e mais tecnológicos, e trabalhar em um ambiente mais sofisticado, tecnicamente falando”, afirma.
Há também reflexos claros das mudanças trazidas pela pandemia na dificuldade de as incorporadoras em encontrarem mão de obra qualificada.
É um fenômeno que atinge também o setor de serviços, em que bares e restaurantes encontram problemas para encontrar cozinheiros, sommeliers e bartenders. A produção de eventos também sofreu com a falta de garçons, por exemplo.
São profissionais que arrumaram outros empregos durante a paralisação da economia durante a pandemia, e agora relutam para voltar ao posto antigo. No caso da construção, o executivo afirma que o principal desafio tem sido o de atrair esses trabalhadores de volta tanto para o setor como para o mercado formal.
Dados de um levantamento da Tendências Consultoria, por exemplo, indicaram que o setor da construção civil é o que apresenta a maior rotatividade de mão de obra no Brasil, com uma taxa de 65,66% nos 12 meses até agosto.
O número é bem maior do que o observado na economia brasileira, de 34,74%. Em seguida vieram os setores de Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura, com 50,57% e de Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas, com 35,39%.
O levantamento foi feito com base no Novo Caged, divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
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Aumento dos salários e dos custos de produção
O cenário, de acordo com representantes do setor, já tem pressionado as construtoras e incorporadoras a oferecerem salários melhores para atrair novos trabalhadores.
De acordo com o economista da Tendências Matheus Ferreira, a geração de vagas no setor de construção civil tem sido impulsionada pelo mercado imobiliário, principalmente no segmento de baixa renda — favorecido após as mudanças nas regras do Minha Casa, Minha Vida.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por exemplo, o rendimento médio mensal das pessoas ocupadas no setor ficou em R$ 2.484 no trimestre encerrado em agosto.
O valor ainda está abaixo da média mensal total, mas ainda representa um avanço de 6,3% em comparação ao mesmo período do ano passado (R$ 2.336). O crescimento é maior do que a média, que subiu 4,8% no mesmo período, de R$ 2.989 para R$ 3.132.
O movimento também acompanha o atual cenário do mercado de trabalho brasileiro, que registrou uma taxa de desemprego de 6,6% no trimestre encerrado em agosto, no menor patamar desde 2014.
A população ocupada no Brasil passou dos 102,5 milhões, um novo recorde da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, iniciada em 2012.
Tudo isso acabou aumentando a competição pela mão de obra no setor de construção civil e pressionou as empresas do segmento a aumentar os salários ofertados para conseguir atrair funcionários.
O Índice Nacional de Custo da Construção – M (INCC-M) mais recente divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) apontou uma alta de 0,61% em setembro nos custos de construção.
E o avanço veio puxado principalmente pelo aumento dos gastos com mão de obra. Nesse grupo, o indicador registrou uma alta de 0,64% no mês, acumulando um avanço de 7,45% em 12 meses.
G1